Outro dia recebi a história de uma leitora e gostaria de
compartilhar com vocês pois é um caso nítido de como muitas vezes é difícil
criar um sentimento de afeto com o enteado.
Combinamos que para não expor a protagonista dessa história
vou usar nomes fictícios.
Mary namorava Fulano (ex
marido de Beltrana), um dia eles se desentenderam como acontece quando se
namora, nada sério. Dois dias depois já estava tudo bem entre ele. Acontece que
na noite do desentendimento, Fulano e sua ex mulher Beltrana se encontraram e
resolveram ter um feedback e transaram sem camisinha! Beltrana engravidou.
Quando soube, Mary muito magoada quis terminar o namoro e nesse momento Fulano
não só não aceitou terminar o relacionamento como pediu ela em casamento (seu
sonho). Ela aceitou e eles se casaram. Meses depois uma dura realidade bate a
sua porta em forma de bêbê, sua enteada nasceu.
Durante os 3 primeiros anos de vida da enteada Mary não só
teve que conviver com seu marido dividido entre ela e a filha como teve que
conviver com o esforço de Beltrana em acabar com o casamento dela e a falta de
pulso do marido com relação a Beltrana.
No caso dela eu entendo que mais do que nunca que ela
deveria ter analisado melhor o “pacote” que ela estava assumindo antes de
aceitar se casar. Neste caso Mary teria que levar em consideração dividir seu
sonho de um casamento na igreja de véu/grinalda e festão, lua de mel na Europa,
casa nova ... tudo isso acontecendo em paralelo com a gestação da sua enteada,
stress da mãe que estava passando um gestação solteira e amargando o pai da
filha casando com outra, ciúmes, baixa auto estima, sentimento de vingança,
barriga crescendo, o parto, primeiros meses de vida da enteada, todo o stress
que a família faz numa hora dessas ... Tudo isso e muito mais fizeram parte
desse pacote.
Beltrano desde o primeiro momento mostrou que era fraco (e
na minha opinião irresponsável também) pois se relacionou de forma aventureira
sem camisinha com sua ex namorada gerando uma filha, mostrando claramente desde
o inicio que ele também seria um peso neste pacote e que embora ele amasse Mary
ela não poderia contar com o pulso firme dele na condução da construção desses
espaços dentro dessa nova família.
Esse tipo de situação é muito complexa emocionalmente falando
pois é repleta de muitos sentimentos antagônicos ...
Eu acredito que independente da situação sempre será
possível uma relação boa e saudável entre madrastas e enteados. A base dessa
minha “crença” é que toda madrasta teve a oportunidade de escolha, sempre
podemos escolher não ter que conviver com filhos de outro relacionamento e uma
vez que escolhemos nos envolver nesse tipo de relacionamento temos que ser
completamente responsáveis pelo nosso papel na vida desses filhos.
Pensando na escolha de Mary, parece muito difícil conseguir
gostar dessa criança, afinal para ela a enteada traz a marca de uma traição.
Pensando nesse caso eu entendi que a única forma dessa madrasta conseguir olhar
de forma diferente para enteada e a partir daí conseguir construir um afeto, é
entendendo que nenhuma é culpada nessa situação ambas cada uma da sua forma são
vitimas das escolhas do Beltrano. Dessa
forma elas ficam do meso lado.
Bom, depois de um bom tempo e uma boa terapeuta a
protagonista de nossa história caminha a passos largos e coração aberto na
direção de construir um bom relacionamento com sua enteada. O que me faz
acreditar cada vez mais que independente da situação sempre haverá um caminho
para se viver bem com os filhos dos nossos companheiros.
Beijo grande e até o próximo post!